O Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo, foi realizado este ano em terras brasileiras — especificamente na capital fluminense — de 1 a 4 de maio. O encontro reuniu mais de 21 mil participantes de 91 países e 974 startups (inseridas em 28 indústrias de 42 países), além de 506 investidores e 400 palestrantes ao longo de 100 horas de conferências, masterclasses, roundtables e sessões de networking que abordaram temas como Inteligência Artificial (IA), privacidade, digitalização e blockchain, entre outros.

Um pouco de história

Vale ressaltar que o Web Summit Rio foi a primeira edição do evento na América Latina. A primeira versão foi realizada em 2009, na Irlanda, por Paddy Cosgrave — e contou com 400 participantes que compartilharam experiências de mercado e discutiram novas ideias para o futuro da inovação no Velho Mundo. Em 2016, o evento passou a ser realizado em Lisboa, Portugal — e agora está em processo de expansão para outras regiões do planeta, tanto que nos próximos anos haverá edições no Canadá, Qatar e Hong Kong.

Neste artigo, apresentamos alguns highlights do evento:

  • Inteligência Artificial (IA) dominou palestras e debates

A IA foi, naturalmente, o tema mais abordado ao longo do encontro (especialmente IA generativa e o famoso ChatGPT), bem como a importância de sua regulamentação. Diversas organizações apresentaram soluções inovadoras nessa seara e houve, ainda, discussões acerca de aspectos éticos e sociais importantes como privacidade, por exemplo — uma vez que a Inteligência Artificial depende de grandes volumes de dados que, dia após dia, aumentam exponencialmente.

  • Privacidade, segurança e uso ético de dados

A especialista em segurança de rede de dados e ativista Chelsea Manning enfatizou, assim, o potencial do uso ético e responsável para a Inteligência Artificial, bem como a importância da utilização de ferramentas que respeitem a privacidade e sejam amigáveis aos usuários. Em sua visão, os tecnólogos desempenham um papel fundamental para a implementação do uso ponderado da IA — cujo foco deve ser a proteção dos direitos dos cidadãos em consonância com as leis e regulamentações vigentes.

Outro tema de destaque abordado ao longo do evento foi a criptografia, instrumento crucial para garantir privacidade aos dados dos usuários e proteger informações confidenciais em meio ao crescimento da demanda por segurança em operações financeiras. Mais: também é amplamente utilizada para tornar operações seguras em outras áreas como, por exemplo, Internet das Coisas (IoT) e armazenamento em nuvem — entre outras.

  • Bancos e instituições financeiras

O papel da Inteligência Artificial em bancos e instituições financeiras foi amplamente debatido ao longo do Web Summit Rio, dada a importância que possui para o aprimoramento de processos e para uma tomada de decisões mais ágil e precisa. Além desses aspectos, a IA contribui para reduzir custos e proporcionar experiências excepcionais aos clientes por meio de ofertas cada vez mais personalizadas — ou seja, alinhadas às necessidades, anseios e demandas dos mais diversos perfis. 

  • Análise de dados na experiência do consumidor

A relevância do data analytics — principalmente para a experiência do consumidor — foi outro tema de peso. Em outras palavras, foi debatida a importância, para as empresas, da adoção de uma postura data driven, mesmo em estágio inicial. Para as organizações que ainda não implementaram tal estratégia, ou seja, não extraem e exploram dos dados com foco em customer experience, a sugestão foi iniciar o armazenamento das informações que já fazem parte de seu fluxo de operações, ou seja, identificar os dados nos processos que já existem no negócio, o que dizem e como utilizá-los da melhor maneira possível.

  • Blockchain

Algumas pautas do Web Summit Rio também abordaram a tecnologia blockchain, cujo potencial para mudar a maneira como os negócios são realizados atualmente encontra sua melhor representação por meio da popularização de NFTs (non-fungible tokens), da tokenização de operações e da própria implementação do metaverso. Essa tendência, aliás, evidencia-se pelos debates, realizados ao longo do evento, para popularizar ainda mais essa tecnologia — assim como as maneiras mais adequadas para utilizá-la.

  • Igualdade e meio-ambiente

O evento também proporcionou reflexões por meio de temas com igualdade e meio-ambiente. A cofundadora do movimento Black Lives Matter, Ayo Tometti, expôs a relevância das redes sociais como instrumentos de visibilidade sobre assuntos importantes como igualdade racial e diversidade, por exemplo — e os usuários como agentes da transformação social. Já Txai Suruí, porta-voz internacional dos povos indígenas brasileiros, trouxe visibilidade à causa da Amazônia, pontuando que a crise do clima é a pior de todos os tempos e os povos indígenas estão à frente dessa batalha: “Somos 5% de toda a população mundial e protegemos 82% de toda a biodiversidade. Nosso compromisso é o da vida”.

Uma reflexão sobre o equilíbrio entre tecnologia e relações humanas

O Web Summit Rio deixa, em meio a tantos debates acerca do que o futuro reserva em termos de tecnologia e inovação, uma oportuna reflexão acerca da necessidade de valorização das relações humanas. Além disso, em que pesem as acaloradas discussões acerca da Inteligência Artificial como assassina de profissões (os jornalistas que o digam) em um futuro não muito distante, deve-se considerar a capacidade humana de intuir e tomar decisões as melhores mesmo quando todas as circunstâncias apontam para outra direção.

Sob tal perspectiva é possível afirmar, sem embargo, que a inovação e as novas tecnologias solucionarão diversos problemas da sociedade — e terão um papel decisivo na construção de um mundo mais justo e inclusivo.